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2012: o que esperar do ano marcado para ser o fim?

  • Foto do escritor: rafaelk2077
    rafaelk2077
  • 10 de jan. de 2012
  • 4 min de leitura

Pelo calendário da civilização maia, em 21/12/12 o mundo acaba. Se não for assim (afinal, é a esperança a última que morre) o que aguarda para o Brasil em 2012? Para responder a essa pergunta, vale observar o que está ocorrendo mundo afora.


Hoje, os donos de cerca de 70% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial (US$ 70 trilhões) estão doentes. Os EUA, maior economia do mundo (US$ 15 trilhões), estão com pneumonia; a China, a segunda (US$ 7 trilhões), está gripada; o Japão, a terceira (US$ 6 trilhões), segue em choque; e a União Europeia (US$ 18 trilhões), em coma.


Neste cenário, riquezas terão que ser destruídas para ajustar os preços dos ativos; mimos dos governos da socialdemocracia terão que ser extintos, pois não há quem pague a conta; dívidas terão que ser perdoadas e metas de déficit terão que ser revistas. O jogo não é de soma zero, mas um, cujos "pay-offs" são: perder pouco ou muito. E isso diz respeito às economias ricas, não à África, continente que segue chorando por seus problemas históricos.


Se o país continuar tropeçando em antigos erros, poderá cair e voltar a ser o velho Brasil dos anos 1980


Luís Stuhlberger da Hedging-Griffo, em reportagem no "O Estado de S. Paulo" de 27/12, diz que o que ocorre "é de gravidade e incerteza bem maiores do que os mercados apontam. Não se trata de escolher entre o ótimo e o bom, mas entre o ruim e o péssimo. Após a Segunda Guerra Mundial, tivemos crises, mas não de esgotamento de modelo em escala global". E o Brasil não fica incólume.


Concernente à recente trajetória brasileira, a partir de 1994, o Brasil se posicionou tão corretamente que a estabilidade de preços e os indicadores socioeconômicos passaram a ser orgulho nacional e foco de todos os governos eleitos. Hoje, a dívida externa deixou de ser manchete; a dívida pública bruta está estável em 55% do PIB e a líquida, decrescente, em 37% do PIB; o resultado primário do setor público passou a ser positivo e a ter meta; a inflação é de um dígito desde 1996 (exceto 2002); a taxa de juros é decrescente; o coeficiente de Gini (desigualdade) está em seu menor patamar histórico (0,52) e a expectativa de vida ao nascer em seu maior (74 anos). O número de pessoas extremamente pobres e a taxa de desemprego são os menores das suas séries. Enfim, este é o novo Brasil, sexta maior potência.


Com aquele pano de fundo internacional escatológico, a bela história do Brasil, porém, poderá sofrer estragos. Afinal, é possível que ocorra em 2012 uma semiestagflação: combinação de baixo crescimento comparado ao PIB potencial (4,5%) e de inflação acima da meta (4,5%).

Surgiram outros problemas. Um deles é a falta de competitividade da indústria, que resulta da escolha de uma política de curto prazo: a de deixar para o governo seguinte o ônus de fazer as reformas estruturais relevantes.


Analisando a série da Produção da Indústria de transformação (PIMt) e esta mesma série na balança comercial, nota-se que houve troca do produto nacional pelo estrangeiro. Enquanto a PIMt cresceu 2% entre agosto de 2007 e agosto de 2011, o saldo na balança comercial passou de US$ 25 bilhões (exportador) em agosto de 2007 para -US$ 43 bilhões (importador) em agosto de 2011, explicando o aumento de 40% nas vendas no varejo.


Culpa-se a taxa de câmbio, que de fato não tem sido boa aliada da indústria; mas o que dizer da elevada carga tributária de 35% do PIB, do crescente custo unitário do trabalhador (salário vis-à-vis à produtividade), do apagão da mão de obra e da infraestrutura precária? Não será com requerimento mínimo de insumos nacionais nem com medidas protecionistas que se resolverá o problema da competitividade da indústria no longo prazo.


Nenhum remédio está sendo dado para elevar as baixas taxas de poupança/investimento (20% do PIB), para, assim, criar condições para o Brasil crescer sustentavelmente. Nestas condições e com uma redução nas linhas de crédito internacionais e nas demandas e preços externos, é pouco provável que o país cresça em seu potencial em 2012.


O efeito desta salada de políticas paliativas para a indústria, dessincronizadas com relação aos demais temas, ademais, contribui para que a meta de inflação siga inalcançável em 2012. De fato, a inflação de bens duráveis desde 2006 em média tem sido nula, por conta da competição externa.


Se as barreiras forem aumentadas e o câmbio ficar mais desvalorizado, fatores que antes mitigavam o efeito da elevada inflação de serviços (9%) agirão na direção contrária. Adicionando-se a estes fatos o aumento do salário mínimo em 14% - que eleva a massa salarial, pelo lado da demanda, e o custo das empresas, pelo da oferta - e uma política monetária mais frouxa, a pressão na inflação deve se manter, ainda que os preços das commodities diminuam.


A inflação em 2012 deverá ultrapassar 5,5% e o crescimento do PIB não deverá ser maior do que 3,5%. Ainda que não seja o fim do mundo como prevê o calendário maia, se o Brasil, que comparativamente parece saudável, continuar tropeçando em antigos erros, poderá cair e voltar a ser o velho Brasil dos anos 80. Se se almeja ser forte, além de grande, há que exercitar-se. Com 70% do mundo doente ou desacelerando, este é o melhor momento para tal. Depois, "correr atrás" ficará mais complicado.


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